Sunday 17 May 2009

Domingo como todos los otros...

...namorado assiste Traffic enquanto eu leio baboseiras no jornal...music of choice: clichê sounds of our latin neighbours: Buena Vista Social Clube followed by Manu Chao...

...tiro um tempo para tuítar sobre o que estava assistindo mais cedo:

uma série do co-diretor de "Ônibus 174" e editor de "Central do Brasil" e "Se eu fosse você" Felipe Lacerda chamada "Em Cuba"

na medida do possível, neutra...uma forma de televisão que eu gostaria de fazer (e tentei no meu último trabalho de telejornalismo): "Não tinha tese, não queria provar nada. Há várias maneiras de se fazer um documentário. Umas delas, talvez das menos interessantes, é informar as coisas. Documentário, pra mim, é experiência. Informação é bônus. Esta série, na verdade, não é sobre Cuba, é sobre a troca humana entre documentarista e documentado."

sobre Cuba: "A dupla moral é condição para se viver em Cuba." "Fico com medo de pensarem que 'lá vai mais um falar mal...' Não estou a fim de ficar escarafunchando ferida. A visão não é de destruição, mas a sociedade está em choque permanente." "Uma coisa que me parece óbvia é que as pessoas lá choram um pouco de barriga cheia. O cara que se acha miserável vive como classe 'média média' daqui." ...tirando de contexto frases tiradas de contexto pelo próprio jornalista...afinal, não é isso que jornalista faz?

(também manipulo, confesso...grifei partes e escohi a dedo outras...me criticam por querer ser muito neutra e objetiva...a eterna discussão da objetividade no jornalismo, que deixaremos para outra hora...)

...já sobre o excepcionalismo brasileiro tratado nas baboseiras de jornal citadas acima...a impressão que dá é que o autor, americano, correspondente no Brasil, crê que o único jeito de um país ser líder é se impondo sobre seus vizinhos 'menores'..

"Pelo porte e desempenho econômico, o País tem reconhecida ascendência sobre sua região, mas não a gerencia. Os brasileiros "não se veem como uma típica potência regional", como diz Matias Spektor, coordenador de Estudos Internacionais da FGV, no Rio. Há nisso uma espécie de dança entre o que o mundo espera do Brasil e o que o Brasil quer do mundo. (...) Ele acha que o País paga um preço "altíssimo" por sua indefinição. Parte desse preço é a desunião latino-americana. Ao credenciar-se nos fóruns internacionais como potência da América Latina sem ter que efetivamente se comprometer com isso, o Brasil se arrisca a alienar seus vizinhos. De fato, não conseguiu o apoio regional como candidato a presidir o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a OEA e muito menos a OMC."

...para mim, essa falta de apoio se deve justamente ao medo de que o Brasil deixe de ser mais ambígüo e torne sua política externa mais incisiva e imperialista...e isso é uma inspiração que ainda temos...mas porque não, sermos uma potência regional atípica? Não se preocupe, chances are, nós voltaremos a seguir o que esperam de nós daqui a dois anos, dependedo do que acontecer em outubro de 2010

e falando nisso, recentemente tive uma conversa com um jornalista colombiano-brasileiro-de-coração...sua principal reclamação é - além do meu esquerdismo ideológico pelo qual todos acima dos 30 me criticam, talvez com razão - a falta de debate sobre o futuro do país pós-outubro/2010...uma falta de nos questionarmos "Now what?", do que faremos pós-Lula, pós-crise, pós-novo 'milagre econômico', pós-vinte-anos-de-nova-democracia, de estabilização dessa 'democracia'? eu disse pra ele que a culpa disso é da mídia, da imprensa, que não coloca esse debate em pauta...ele não concorda, acha que o dever de discutir isso é do governo, da oposição, do povo

bem, para mim, o suplemento desse domingo do Estadão prova o que eu digo...não sei se estou certa, mas quando vejo todo um caderno dedicado à discussão ridículamente ultrapassada de "Lula não deve se entregar à tentação de um terceiro mandato", vejo isso como falta de vontade da imprensa de colocar o debate em pauta, se limitando à falta de debate de uma questão ultrapassada para provar sua tese macartiana da ameaça chavista no Brasil...

comentário anônimo no blog de "Em Cuba":
"O problema do sistema de Cuba ser diferente do nosso é mesmo um problema deles.
O nosso problema no Brasil hoje, é que tem políticos enganando o povo e tratando de fazer com que o nosso sistema de governo seja igual ao de Cuba. Com todas as misérias que Fidel e Chavez defendem.
Nunca antes neste país..."

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